
A Inflação no Brasil no 1º semestre de 2023: o que explica a queda recente?
A inflação é um fenômeno econômico que afeta diretamente a vida de todos os brasileiros.
Acompanhar a dinâmica dos preços e entender os fatores que impulsionam a inflação é essencial para compreendermos o cenário econômico do país. Neste artigo, vamos explorar a inflação no Brasil no 1º semestre de 2023, analisando os principais fatores que influenciaram a inflação nesse período e quais as perspectivas para o final de 2023.
No último dia 11 de junho, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o resultado para o mês de junho/23 na qual a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), caiu -0,08%, uma redução de 0,31 pontos percentuais (p.p.), face um aumento 0,23% em maio. Essa é a menor variação para o mês de junho desde 2017, quando o IPCA registrou uma queda de -0,23%. No ano de 2023, o IPCA acumula alta de 2,87% e nos últimos 12 meses, uma alta de 3,16%, abaixo dos 3,94% observados nos 12 meses imediatamente anteriores.
Em relação ao ano passado, em junho de 2022, o IPCA registrou um aumento de 0,67%. Esses resultados mostram uma redução da inflação, sendo esse o primeiro registro de deflação no ano de 2023, conforme mostra o gráfico a seguir:

O gráfico mostra claramente uma tendência da queda da inflação a partir de fevereiro de 2023, mês após mês até obtermos a primeira deflação no ano. Mas caro leitor, duas perguntas devem ser feitas para entender a queda recente da inflação no Brasil:
1) Quais grupos do índice de preços contribuíram para essa queda recente do IPCA?; e
2) Quais fatores econômicos fizeram com que a inflação cedesse tão rápido em tão pouco tempo?
Para responder a primeira pergunta, deve-se analisar o comportamento dos principais grupos que compõem o IPCA.

Conforme mostrado no gráfico, 9 são os grupos que compõem a cesta básica do IPCA. O grupo Educação mostrou uma forte elevação no mês de fevereiro por conta do reajuste das mensalidades escolares, compactuadas em contrato e é um dos grupos com maior elevação no primeiro semestre do alto, com uma alta acumulada de quase 7%. O grupo Saúde e Cuidados Pessoas seguido do grupo Comunicação foram os grupos que acumularam as maiores altas no semestre, de 4,86% e 3,76%, respectivamente no 1º semestre.
Entretanto, alguns grupos, que tem um peso maior na cesta do IPCA mostram uma alta bem menor do que a média nacional. São eles: Vestuário (1,41%), Alimentos e Bebidas (1,02%), Artigos de Residência (0,06%), compondo quase 30% do IPCA. As maiores quedas sentidas pelo consumidor foram nos Alimentos e Bebidas com forte redução no preço do óleo de soja (-24,52%), tubérculos, raízes e legumes (-7,88%) e carnes (-5,85%), Os grupos Transportes (2,60%) e Despesas Pessoais (2,78%) se mantiveram na média do IPCA.
Logo meu caro leitor, as maiores quedas sentidas foram no quesito alimentação que contribuiu muito para a redução rápida da inflação. Mas ainda falta responder a segunda pergunta: Quais fatores econômicos fizeram com que a inflação cedesse tão rápido em tão pouco tempo?
Para responder a essa pergunta primeiro, precisamos entender a dinâmica entre algumas variáveis econômicas. Duas variáveis econômicas têm grande capacidade de influenciar a inflação no Brasil: taxa de juros e taxa de câmbio.
Na primeira relação, a taxa de juros é o principal instrumento que a autoridade monetária (que no caso brasileiro é o Banco Central do Brasil – BCB) tem para trazer a inflação para o centro da meta de inflação estipulada. Isso ocorre atualmente porque o Brasil tem mantido taxa de juros básica da economia brasileira (também conhecida como taxa SELIC) num patamar elevado e quando a taxa de juros está alta, o acesso ao crédito se torna mais caro e restrito, desacelerando o consumo e reduzindo a pressão inflacionária. Atualmente a taxa SELIC está em 13,75% a.a., bem acima da média mundial.
Outro fator determinante é a taxa de câmbio. No 1º semestre de 2023 a taxa de câmbio brasileiro se valorizou fortemente passando de R$/US$ de 5,25 para aproximadamente R$/US$ 4,80, que pode beneficiar o consumidor, tornando os produtos importados mais acessíveis e reduzindo a pressão inflacionária.
Encontrar o equilíbrio entre essas variáveis não é uma tarefa fácil. A política monetária, que envolve o controle da taxa de juros, e a política cambial são instrumentos utilizados pelo governo para controlar a inflação. Aumentar a taxa de juros, por exemplo, pode ajudar a conter a inflação, mas também pode desacelerar a atividade econômica e aumentar o desemprego.
É importante ressaltar que controlar a inflação é essencial para preservar o poder de compra da população e manter a estabilidade econômica. A inflação alta prejudica os mais pobres, pois eles têm menos capacidade de lidar com o aumento dos preços. Além disso, a inflação descontrolada pode minar a confiança dos agentes econômicos e afetar negativamente os investimentos e o crescimento econômico.
Dessa forma, é necessário adotar uma abordagem equilibrada e cuidadosa para controlar a inflação no Brasil. O Banco Central, responsável pela política monetária, precisa avaliar constantemente os diferentes fatores que afetam a inflação e tomar decisões baseadas em análises detalhadas.
Mas então, o que esperar para o 2º semestre de 2023 em termos de inflação, taxa de juros e taxa de câmbio?
O Boletim Focus do Banco Central pode nos dar uma pista. Segundo esse boletim, o mercado tem uma expectativa de inflação para 2024 em torno dos 4,95% a.a bem mais próximo da meta que é de 3,25% a.a. do que o estimado no inicio do ano que era algo em torno de 6% a.a. Já pra taxa Selic espera uma redução para 12% a.a. e a taxa de câmbio na casa dos R$/US$ 5,00.
Números promissores para uma economia que precisa crescer e se desenvolver para gerar emprego e renda. Contudo, isso acontecer de fato, é preciso paciência e vigilância por parte do Banco Central. Vamos aguardar os próximos passos da autoridade monetária e esperar o melhor para nossa economia: inflação baixa, estável e com uma taxa de juros condizente com o que nossa economia precisa para crescer.
Por Mateus Ramalho Ribeiro da Fonseca & Mateus Rosani Publicado 17/07/2023 – GMConine.com.br
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